Brasil realiza a primeira terapia CAR-T totalmente nacional com alta taxa de remissão em cânceres do sangue
Um avanço histórico na imunoterapia brasileira e novas perspectivas para pacientes com leucemia e linfoma
11/12/2025
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O Brasil alcançou um marco histórico na oncologia ao realizar a primeira terapia CAR-T produzida integralmente em território nacional, com resultados que podem transformar o tratamento de cânceres hematológicos resistentes a terapias convencionais. Essa conquista representa um avanço pioneiro não só para o país, mas também para a América Latina, abrindo caminhos para maior acesso a tratamentos imunoterápicos de última geração.
O que é terapia CAR-T e por que ela é tão promissora?
A terapia com células CAR-T (Chimeric Antigen Receptor T-cell) é uma forma de imunoterapia personalizada. O procedimento consiste em:
Coletar linfócitos T do próprio paciente;
Modificar geneticamente essas células para que reconheçam um antígeno específico presente nas células tumorais;
Reinfundir essas células modificadas para que destruam as células cancerígenas de forma eficiente.
Esse tipo de tratamento tem se mostrado extremamente eficaz em cânceres do sangue, como leucemias e linfomas de células B — espécies de tumores que muitas vezes não respondem mais a quimioterapia ou outras terapias padrão.
Resultados do estudo nacional: taxas de resposta e remissão
Um estudo clínico conduzido pelo Hospital Israelita Albert Einstein, em parceria com o Ministério da Saúde por meio do PROADI-SUS, demonstrou resultados expressivos da terapia CAR-T 100% nacional:
81% de taxa de resposta global ao tratamento;
72% de remissão completa da doença em pacientes com cânceres do sangue;
71% de sobrevida livre de progressão após cerca de 11 meses de acompanhamento;
80% de sobrevida global no mesmo período.
Estes números são comparáveis a centros internacionais e reforçam a eficácia da abordagem. Todos os pacientes incluídos estavam em estágios avançados de doença e já haviam esgotado outras opções terapêuticas antes de receber a terapia CAR-T.
Produção nacional: inovação tecnológica e redução de barreiras
O projeto é também um marco pela capacidade de manufatura local:
O CAR-T foi produzido dentro do próprio hospital usando uma plataforma automatizada (CliniMACS Prodigy);
O tempo médio entre a coleta de células e a infusão de células modificadas — conhecido como vein-to-vein — foi 22 dias, com 100% de sucesso na fabricação do produto terapêutico, um índice raro mesmo em grandes centros internacionais.
A produção interna não só reduz o custo potencial do tratamento, como também elimina dependência de envio para laboratórios no exterior — uma barreira de acesso que, em muitos casos, inviabilizava o uso desse tipo de terapia no Brasil.
Efeitos colaterais: o que foi observado
Os efeitos adversos observados foram compatíveis com o esperado para terapias CAR-T:
Síndrome de liberação de citocinas (CRS) leve a moderada;
Febre e reações inflamatórias, controladas com suporte clínico adequado;
Sintomas neurológicos temporários em alguns pacientes, também tratados com suporte específico.
Esses eventos são conhecidos da terapia CAR-T e fazem parte do manejo clínico planejado em centros especializados.
Impacto e perspectivas futuras
Ampliação da produção e redes de terapia celular
Os pesquisadores citam a intenção de formar uma rede nacional de produção e aplicação de CAR-T, envolvendo instituições como:
USP de Ribeirão Preto;
Instituto Butantan;
Fiocruz;
INCA;
Centros regionais como Mandacaru.
Isso pode permitir um aumento substancial no número de pacientes tratados em diferentes regiões do país.
Próximas fases de estudo
A fase II do estudo está prevista para 2026–2027 e será fundamental para consolidar evidências sobre eficácia, segurança e aplicação em maior número de pacientes.
Discussões sobre incorporação no SUS
Embora a produção nacional seja um passo essencial, a incorporação ao Sistema Único de Saúde (SUS) ainda depende de etapas regulatórias e de avaliação de custo-efetividade por órgãos como a CONITEC após eventual registro do produto pela Anvisa.
Em Síntese: um marco para a medicina brasileira
A realização da primeira terapia CAR-T 100% nacional com resultados de remissão tão altos representa um avanço científico de grande impacto para o tratamento de cânceres hematológicos no Brasil e na América Latina. Ela não apenas demonstra a capacidade técnica e regulatória nacional, como também abre portas para ampliar o acesso a terapias de ponta que antes eram inacessíveis para grande parte dos pacientes devido ao custo e à dependência de tecnologia importada.
Referências
O estudo do Hospital Israelita Albert Einstein, conduzido no Brasil, demonstrou 81% de resposta global e 72% de remissão completa em pacientes tratados com CAR-T nacional. Alô Alô Bahia
A terapia CAR-T nacional é produzida com sucesso em ambientes hospitalares, reduzindo custos e tempo de produção em comparação com modelos importados. Alô Alô Bahia

