Crises de soluço: o que pode causar esse sintoma persistente e quando investigar?

Quando o soluço deixa de ser benigno e pode indicar alterações neurológicas, metabólicas ou gastrointestinais

28/12/2025

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O soluço é um sintoma comum, geralmente benigno e autolimitado. No entanto, quando se torna persistente ou recorrente, pode indicar alterações clínicas relevantes que exigem investigação médica. As chamadas crises de soluço podem ser mais do que um simples incômodo — em alguns casos, são um sinal de alerta.

Entender os mecanismos envolvidos e as possíveis causas ajuda a diferenciar situações banais daquelas que merecem atenção.

O que é o soluço?

O soluço ocorre devido a uma contração involuntária do diafragma, seguida do fechamento abrupto da glote, produzindo o som característico. Ele envolve um arco reflexo complexo, que inclui:

  • nervo frênico;

  • nervo vago;

  • tronco cerebral;

  • estruturas torácicas e abdominais.

Qualquer estímulo que irrite esse circuito pode desencadear o sintoma.

Classificação clínica do soluço

  • Agudo: dura minutos ou horas (mais comum);

  • Persistente: dura mais de 48 horas;

  • Intratável: persiste por mais de 1 mês.

Quanto maior a duração, maior a probabilidade de causa orgânica.

Causas mais comuns de crises de soluço

1. Gastrointestinais (as mais frequentes)

  • distensão gástrica;

  • refluxo gastroesofágico;

  • gastrite;

  • esofagite;

  • hérnia de hiato.

O estômago distendido pode irritar o diafragma e o nervo frênico.

2. Neurológicas

  • acidente vascular cerebral (AVC);

  • tumores do SNC;

  • esclerose múltipla;

  • meningite ou encefalite;

  • lesões no tronco cerebral.

👉 Soluço persistente pode ser manifestação neurológica.

3. Metabólicas

  • uremia (insuficiência renal);

  • hiponatremia;

  • hipocalcemia;

  • hiperglicemia.

Em pacientes renais crônicos, o soluço pode ser um sinal de descompensação metabólica.

4. Medicamentos

  • corticosteroides;

  • benzodiazepínicos;

  • opioides;

  • quimioterápicos;

  • anestésicos.

Sempre revisar o histórico medicamentoso.

5. Torácicas e cardiovasculares

  • pneumonia;

  • derrame pleural;

  • pericardite;

  • infarto do miocárdio (raro, mas descrito).

6. Psicogênicas

  • ansiedade;

  • estresse intenso;

  • crises emocionais;

São diagnósticos de exclusão.

Quando o soluço deixa de ser banal?

Sinais de alerta incluem:

  • duração > 48 horas;

  • perda de peso;

  • vômitos persistentes;

  • alteração do nível de consciência;

  • dor torácica ou neurológica;

  • associação com insuficiência renal, câncer ou infecção.

👉 Nessas situações, investigar é obrigatório.

Avaliação clínica e exames

A abordagem depende do contexto, mas pode incluir:

  • história clínica detalhada;

  • exame neurológico;

  • exames laboratoriais (eletrólitos, função renal);

  • imagem (TC ou RM, se indicado);

  • endoscopia digestiva, em casos selecionados.

O laboratório é fundamental na identificação de causas metabólicas.

Tratamento

  • casos simples: geralmente não necessitam tratamento;

  • causas identificadas: tratar a doença de base;

  • soluço persistente: pode exigir terapia medicamentosa específica.

Nunca tratar o sintoma isoladamente sem avaliar o contexto.

Em Síntese

A maioria dos soluços é benigna. Porém, crises de soluço persistentes ou recorrentes não devem ser ignoradas. Elas podem sinalizar alterações gastrointestinais, neurológicas ou metabólicas importantes.

No cuidado em saúde, até sintomas aparentemente simples merecem olhar clínico atento.

📌 Atenção às crises de soluço

  • Observe a duração do soluço: mais de 48h merece avaliação.

  • Não ignore sintomas associados como náuseas, confusão ou fraqueza.

  • Evite automedicação sem orientação profissional.

  • Procure avaliação médica em casos persistentes ou recorrentes.

  • Informe-se por fontes confiáveis no Alerta Saúde.

👉 Soluço persistente não é normal. Investigar cedo evita diagnósticos tardios.

📚 Fontes e referências

  • UpToDateHiccups: Evaluation and management.

  • Mayo Clinic — Persistent and intractable hiccups.

  • Harrison’s Principles of Internal Medicine — Distúrbios neurológicos e reflexos.

  • Cleveland Clinic — Causes and treatment of chronic hiccups.

  • National Institutes of Health (NIH) — Neurological causes of hiccups.

  • Ministério da Saúde – Brasil — Abordagem clínica de sintomas persistentes.

Soluço persistente pode ser sinal de algo além do desconforto