É Permitido Enterrar um Membro Amputado? Aspectos Éticos, Religiosos e Culturais no Brasil
Entre a Fé e a Medicina: O Enterro de Membros Amputados e os Limites Éticos, Religiosos e Culturais no Brasil
12/05/2025
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O enterro de partes amputadas do corpo, como braços, pernas e até órgãos, é um tema que provoca reflexão e, ao mesmo tempo, gera muitas dúvidas. Embora pareça incomum, o desejo de enterrar um membro amputado está longe de ser apenas uma excentricidade. Em muitos casos, trata-se de uma decisão motivada por valores religiosos, crenças espirituais ou rituais de luto e dignidade corporal.
Mas afinal: é permitido enterrar um membro amputado? O que diz a legislação? Como os hospitais devem agir? E como a ética médica e a cultura do paciente influenciam essa escolha?
Por Que Alguém Desejaria Enterrar Parte do Próprio Corpo?
A amputação de um membro é, para muitas pessoas, um evento traumático. Além das consequências físicas, há um impacto profundo no emocional, na identidade e até na espiritualidade do paciente. Em diversas culturas, o corpo é visto como uma unidade sagrada, que deve ser preservada mesmo após a morte.
Alguns motivos pelos quais pacientes ou familiares solicitam o enterro de partes amputadas incluem:
Rituais religiosos, como práticas afro-brasileiras, judaicas, católicas ou indígenas;
Respeito à integridade do corpo, com a intenção de ser enterrado completo futuramente;
Processo de luto simbólico, como forma de "despedida" daquela parte perdida;
Tradições culturais ou familiares que valorizam o cuidado com partes do corpo separadas.
A Visão das Religiões e Tradições Populares
🔹 Cristianismo tradicional
Apesar de não haver regra clara, o respeito ao corpo como templo de Deus está presente. Algumas famílias optam por enterrar membros em túmulos da família, como gesto simbólico de preservação.
🔹 Religiões de matriz africana (candomblé e umbanda)
Há práticas específicas relacionadas ao culto ao corpo e à conexão entre o físico e o espiritual. A separação de parte do corpo pode exigir rituais de descarte com respeito ou sepultamento.
🔹 Judaísmo
Valoriza fortemente a integridade do corpo. É comum o desejo de enterrar qualquer parte separada, com intenção de reunir os restos mortais para o descanso final.
🔹 Cultura indígena brasileira
Algumas etnias preservam ou realizam rituais com partes corporais como forma de homenagear a ancestralidade e manter a ligação com os espíritos.
O Que Diz a Ética e a Legislação Brasileira?
Do ponto de vista técnico, partes amputadas são consideradas resíduos biológicos (Grupo A, Subgrupo A3) segundo a RDC 222/2018 da ANVISA. Em hospitais, a destinação padrão é o descarte controlado com empresas licenciadas.
No entanto, a legislação não proíbe o enterro, desde que haja:
Solicitação formal do paciente ou familiar;
Registro médico da amputação;
Consentimento do hospital e encaminhamento adequado;
Em alguns casos, registro junto a serviços funerários ou cartório.
É uma zona cinzenta legal, mas amparada por princípios éticos de respeito à dignidade e à cultura do paciente.
Nota: Subgrupo A3 - Peças anatômicas (membros) do ser humano; produto de fecundação sem sinais vitais, com peso menor que 500 gramas ou estatura menor que 25 centímetros ou idade gestacional menor que 20 semanas, que não tenham valor científico ou legal e não tenha havido requisição pelo paciente ou seus familiares.
Como os Profissionais de Saúde Devem Agir?
A ética profissional exige respeito à autonomia do paciente e sensibilidade diante de práticas culturais. O ideal é que a equipe:
Ouça atentamente o pedido do paciente ou família;
Consulte o setor jurídico ou a comissão de ética do hospital;
Oriente sobre os trâmites legais e possíveis restrições sanitárias;
Evite julgamentos ou ironias, mantendo postura profissional e empática.
Casos Reais: Quando o Corpo Conta Histórias
Diversas reportagens ao longo dos anos mostraram situações como:
Um paciente que quis enterrar a perna amputada no jazigo da família;
Uma mulher que guardou o útero removido após histerectomia por razões espirituais;
Famílias que realizaram rituais de despedida ao enterrar membros perdidos em acidentes.
Esses casos ilustram como o corpo não é apenas físico, mas também emocional, espiritual e simbólico.
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