Fenômeno das Aglutininas Frias: Por Que o Hemograma Pode Estar Mentindo no Inverno?
Entenda os erros laboratoriais causados por aglutinação a frio e como evitá-los no dia a dia da rotina clínica
11/05/2025
2 min ler


Você já se deparou com um hemograma com hematócrito incompatível com a hemoglobina, índices eritrocitários distorcidos ou leucocitose falsa em um paciente aparentemente estável?
A resposta pode estar no clima: as aglutininas frias podem ser as responsáveis por resultados errôneos que confundem o diagnóstico e comprometem a conduta clínica.
O Que São Aglutininas Frias?
Aglutininas frias (ou crioaglutininas) são autoanticorpos, geralmente do tipo IgM, que se ligam às hemácias a temperaturas mais baixas do que o normal, promovendo aglutinação dos eritrócitos — ou seja, o empilhamento e adesão anormal das células vermelhas do sangue.
Esse fenômeno ocorre especialmente quando o sangue esfria abaixo de 32°C, o que pode acontecer durante a coleta, transporte ou armazenamento inadequado de amostras.
Como Isso Afeta o Hemograma?
A presença de aglutininas frias altera artificialmente os resultados do hemograma, levando a interpretações clínicas equivocadas:
Redução do número de hemácias (falsamente baixo);
Hemoglobina normal, mas hematócrito incompatível;
VCM (volume corpuscular médio) aumentado falsamente;
RDW elevado;
Leucocitose ou plaquetopenia falsa (em analisadores automáticos).
Essas alterações não refletem a condição real do paciente, mas sim interferências pré-analíticas causadas pela aglutinação a frio.
Sinais de Alerta para o Laboratório
✅ Hemograma com discrepância entre hemoglobina e hematócrito
✅ Hemácias em “pilhas” (rouleaux) ou agrupadas em microscopia
✅ Valores extremamente alterados de VCM e RDW sem justificativa clínica
✅ Rejeição da amostra pelo equipamento ou alertas de erro hematimétrico
Nota: Na avaliação macroscópica de amostra sanguínea com atividade de aglutinina fria, é relevante apontar que eritrócitos (ou hemácias) em amostras de sangue de pacientes podem se aglutinar prontamente nas paredes de tubos de vidro ou outro material a temperatura ambiente, ou o sangue pode rapidamente exibir precipitação após coleta.
Quando há suspeita, a recoleta e aquecimento da amostra a 37°C antes da análise pode corrigir os resultados.
Casos Comuns Associados a Aglutininas Frias
Infecções virais, como Mycoplasma pneumoniae e Epstein-Barr;
Doenças autoimunes;
Linfomas e outras neoplasias hematológicas;
Fenômeno idiopático ou transitório induzido por frio intenso.
Impacto na Prática Clínica: Quando o Exame Mente, o Paciente Paga
Resultados distorcidos podem levar a:
Solicitação de exames desnecessários;
Suspeita infundada de anemia ou leucemia;
Erros de transfusão ou terapias equivocadas;
Atraso no diagnóstico real.
Reconhecer o fenômeno das aglutininas frias é essencial para garantir a segurança laboratorial e clínica.
Como o Laboratório Deve Proceder?
✔️ Manter o tubo aquecido durante transporte
✔️ Aquecer a amostra a 37°C por 10 a 30 minutos antes da análise
✔️ Comunicar ao clínico se o padrão sugerir interferência de anticorpos frios
✔️ Analisar morfologia em lâmina manualmente sempre que necessário
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