Intoxicação por Metanol x Ânion Gap: Entenda a Relação e a Importância do Diagnóstico Laboratorial
Como o ânion gap ajuda a identificar intoxicação por metanol e por que esse exame é decisivo na emergência clínica.
14/11/2025
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A intoxicação por metanol é uma das emergências tóxicas mais graves atendidas em hospitais. Quando não diagnosticada rapidamente, pode evoluir para acidose metabólica severa, cegueira permanente e até óbito.
Um dos marcadores mais importantes para esse diagnóstico é o ânion gap elevado, que ajuda a diferenciar causas de acidose e identificar a presença de álcoois tóxicos no organismo.
Este artigo explica, de forma clara, objetiva e didática, como o metanol altera o ânion gap, por que isso é tão relevante na urgência e quais exames devem ser solicitados.
🔬 O que é o ânion gap e por que ele importa?
O ânion gap (AG) é um cálculo laboratorial que estima a diferença entre cátions e ânions não medidos no sangue.
A fórmula mais utilizada é:
AG = Na⁺ – (Cl⁻ + HCO₃⁻)
O valor de referência costuma variar entre 8 e 12 mEq/L (metodologias podem alterar essa faixa).
Quando o AG fica elevado, significa que há acúmulo de ácidos não medidos — situação típica de intoxicações por álcool tóxico, como metanol e etilenoglicol.
☠️ Metanol: por que ele aumenta o ânion gap?
Depois de ingerido, o metanol é convertido no fígado por meio da álcool desidrogenase, gerando:
Formaldeído;
Ácido fórmico.
O ácido fórmico é altamente tóxico e causa:
Acidose metabólica intensa;
Déficit visual ou cegueira;
Falência respiratória;
E, sem tratamento, morte.
À medida que o ácido fórmico se acumula, o ânion gap sobe rapidamente, geralmente acima de 20–25 mEq/L, podendo ultrapassar 30.
Esse achado laboratorial, principalmente quando acompanhado de osmolar gap elevado, é um sinal de alerta fortíssimo.
⚠️ Sinais clínicos que sugerem intoxicação por metanol
O paciente pode apresentar:
Náuseas e vômitos;
Tontura, cefaleia intensa;
Dor abdominal;
Respiração rápida (acidose);
Confusão mental ou coma;
Distúrbios visuais: visão borrada, “bola de neve”, até cegueira.
Em muitos casos, a clínica é discreta no início, e o diagnóstico depende fortemente do laboratório.
🧪 Exames essenciais na suspeita de intoxicação por metanol
1. Gasometria arterial
Mostra acidose metabólica severa;
HCO₃⁻ extremamente reduzido.
2. Ânion Gap
Geralmente muito elevado devido ao acúmulo de ácido fórmico.
3. Osmolar Gap
Aumento sugere presença de álcool tóxico circulante.
4. Função renal e hepática
Avaliam gravidade e complicações.
5. Dosagem direta do metanol
Método confirmatório por cromatografia gasosa;
Nem sempre disponível rapidamente.
🏥 Conduta e tratamento na urgência
O tratamento NÃO deve esperar confirmação laboratorial:
Fomepizol ou etanol para bloquear o metabolismo do metanol;
Bicarbonato de sódio para corrigir acidose;
Hemodiálise para remover metanol e ácido fórmico;
Suporte intensivo e reposição eletrolítica conforme necessidade.
O prognóstico depende diretamente do tempo entre ingestão e tratamento.
📌 Como o laboratório ajuda a salvar vidas
Identifica rapidamente acidose metabólica com AG elevado;
Descarta outras causas de AG aumentado;
Fornece dados para decisão imediata de terapia antidotal;
Orienta se há necessidade de diálise;
Ajuda a monitorar a resposta clínica.
A interpretação correta do ânion gap é parte essencial da toxicologia clínica na emergência.
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📚 Fontes
BRASIL. Ministério da Saúde. Intoxicações Exógenas: Guia de Vigilância em Saúde. Brasília, 2022.
NESAN, Ricardo. Boas Práticas Laboratoriais: Você Pratica? Canva, 2023.
KRAUT, J. A.; MULLINS, M. E. Toxic Alcohols. New England Journal of Medicine, v. 378, p. 270–280, 2018.
BARCELOUX, D. G. Methanol Toxicity. Clinical Toxicology, v. 53, n. 8, p. 557–572, 2015.
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