LCR e VDRL: Por Que Não se Deve Fazer a Titulação?

Entenda por que o VDRL no líquor é um exame qualitativo e por que a titulação pode gerar resultados imprecisos no diagnóstico da neurossífilis.

14/10/2025

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O VDRL (Venereal Disease Research Laboratory) realizado no LCR (líquido cefalorraquidiano) é o exame padrão para o diagnóstico laboratorial da neurossífilis, forma grave da sífilis que compromete o sistema nervoso central.
No entanto, uma dúvida recorrente entre profissionais e estudantes de análises clínicas é: por que não se deve titular o VDRL no LCR?

A resposta está na interpretação técnica e imunológica do teste, que possui comportamento distinto quando realizado no sangue e no líquor.

O que é o VDRL no LCR

O VDRL no líquor é um teste não treponêmico que detecta anticorpos reaginas contra lipídios liberados por células danificadas pela infecção pelo Treponema pallidum.
No LCR, ele é utilizado para identificar a presença de resposta imunológica intratecal, indicativa de infecção ativa no sistema nervoso — ou seja, neurossífilis.

Por que o VDRL no LCR não deve ser titulado

Diferente do VDRL realizado no soro, que é quantitativo e permite titulação, o VDRL no LCR é um teste apenas qualitativo.
Ele tem como objetivo detectar a presença ou ausência de anticorpos, e não medir a intensidade da resposta.
Isso ocorre por alguns motivos técnicos e imunológicos:

  1. ⚗️ Baixa concentração de anticorpos no líquor – os títulos geralmente são muito baixos, tornando a titulação imprecisa e pouco reprodutível;

  2. 🧪 Risco de falsos negativos – diluições sucessivas podem reduzir a sensibilidade do teste e mascarar resultados verdadeiramente reagentes;

  3. 📉 Finalidade diagnóstica, não de acompanhamento – o VDRL no LCR serve para confirmar a infecção ativa, enquanto o controle de tratamento é feito com VDRL sérico;

  4. 🧠 Correlação clínica essencial – o resultado do VDRL no LCR deve ser interpretado em conjunto com citologia, proteínas e testes treponêmicos complementares.

Por essas razões, não se recomenda a titulação do VDRL no líquor. O exame deve ser interpretado como reagente ou não reagente, e qualquer tentativa de quantificação pode gerar erro diagnóstico.

Quando o VDRL deve ser titulado

A titulação só é indicada no VDRL realizado no soro (sanguíneo).
Nesse caso, o acompanhamento dos títulos é útil para avaliar a resposta terapêutica e monitorar reinfecções ou falhas de tratamento.
No LCR, a função do exame é apenas confirmar a presença de atividade imunológica no sistema nervoso central.

Interpretação segura

Um VDRL reagente no LCR é altamente específico para neurossífilis, mas sua sensibilidade é limitada.
Portanto, um resultado não reagente não exclui a doença — sendo essencial correlacionar com dados clínicos e outros marcadores laboratoriais, como:

  • FTA-ABS no LCR (teste treponêmico confirmatório);

  • Pleocitose linfocitária;

  • Aumento de proteínas no líquor.

Em Síntese

O VDRL no LCR não deve ser titulado, pois sua função é qualitativa e diagnóstica, não quantitativa.
A tentativa de titulação pode gerar resultados equivocados e comprometer a interpretação clínica.
Em resumo: no líquor, o VDRL é positivo ou negativo — nada além disso.

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📌 Fonte: Alerta Saúde – conteúdo baseado nas diretrizes do Ministério da Saúde (Brasil), CDC (Centers for Disease Control and Prevention) e Manual de Diagnóstico Laboratorial da Sífilis, 2023.

🧪 VDRL no LCR: exame qualitativo, não quantitativo