Picada de cobra: quais exames laboratoriais são essenciais no atendimento de urgência?
Avaliação da coagulação, função renal e gravidade do envenenamento no atendimento emergencial
13/12/2025
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A picada de cobra (acidente ofídico) é uma emergência médica de notificação compulsória no Brasil e exige atendimento rápido, padronizado e baseado em protocolo oficial. Segundo o Ministério da Saúde, a avaliação clínica deve ser sempre associada a exames laboratoriais estratégicos, que são fundamentais para classificar a gravidade do envenenamento, orientar a soroterapia e monitorar complicações.
Neste contexto, o laboratório clínico deixa de ser apenas um setor de apoio e passa a exercer papel central na tomada de decisão médica, especialmente nos primeiros minutos após a admissão do paciente.
Acidente Ofídico no Brasil: um problema de saúde pública
De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registra dezenas de milhares de acidentes por serpentes todos os anos, principalmente causados por:
Bothrops (jararaca) – mais frequente;
Crotalus (cascavel);
Lachesis (surucucu);
Micrurus (coral verdadeira).
Cada gênero apresenta mecanismos de ação diferentes do veneno, o que impacta diretamente os achados laboratoriais e a conduta clínica.
O que o Protocolo do Ministério da Saúde determina?
O Guia de Vigilância em Saúde e o Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos do Ministério da Saúde estabelecem que a gravidade do acidente deve ser definida com base em:
Avaliação clínica;
Evolução dos sinais e sintomas;
Resultados laboratoriais seriados.
O protocolo deixa claro: a soroterapia não deve ser atrasada aguardando exames, mas os exames são indispensáveis para classificação, acompanhamento e decisão de doses adicionais de soro.
Exames laboratoriais prioritários na picada de cobra
1. Avaliação da coagulação (ponto-chave do protocolo)
O Ministério da Saúde recomenda fortemente a avaliação da coagulação, especialmente nos acidentes botrópicos.
🔬 Exames indicados:
Tempo de Coagulação (TC) – teste simples, rápido e ainda recomendado no protocolo oficial;
TAP;
TTP;
Fibrinogênio (quando disponível);
Plaquetas;
Índices plaquetários.
📌 Observação importante:
Embora o TC seja considerado obsoleto em muitos contextos laboratoriais, ele permanece indicado no protocolo do Ministério da Saúde para acidentes ofídicos, justamente por sua aplicabilidade em serviços de urgência com poucos recursos.
2. Hemograma
Avalia:
Anemia por sangramento;
Leucocitose inflamatória;
Plaquetopenia associada ao consumo.
É essencial para monitorar a evolução clínica e possíveis complicações hemorrágicas.
3. Função renal
Especialmente importante em acidentes por cascavel (Crotalus) e surucucu (Lachesis).
🔬 Exames indicados:
Ureia;
Creatinina;
Eletrólitos (Na⁺, K⁺);
EAS (urina rotina).
Alterações precoces podem indicar rabdomiólise, mioglobinúria e insuficiência renal aguda.
4. Urina rotina (EAS)
O protocolo recomenda EAS para:
Detectar hematúria;
Identificar mioglobina (sugestiva de lesão muscular);
Monitorar função renal inicial.
Urina escura, positiva para sangue sem hemácias ao microscópio, é sinal de alerta para rabdomiólise.
5. Creatinoquinase (CK)
Fundamental nos acidentes crotálicos:
Avalia destruição muscular;
Ajuda a prever risco de insuficiência renal.
Classificação da gravidade segundo o protocolo
A gravidade do acidente (leve, moderado ou grave) leva em conta:
Intensidade do sangramento;
Alterações da coagulação;
Alterações laboratoriais progressivas;
Sinais sistêmicos.
Essa classificação define a dose do soro antiofídico, que deve ser administrado o mais precocemente possível.
Monitoramento laboratorial após a soroterapia
O Ministério da Saúde orienta:
Repetir exames de coagulação após a administração do soro;
Monitorar função renal e hemograma;
Avaliar necessidade de doses adicionais de soro.
Persistência de incoagulabilidade ou piora laboratorial indica falha terapêutica ou necessidade de reforço.
O papel estratégico do laboratório na urgência
No acidente ofídico, o laboratório:
Confirma gravidade;
Documenta resposta ao soro;
Detecta complicações precoces;
Sustenta decisões médicas críticas.
Qualquer atraso, erro pré-analítico ou falha de comunicação impacta diretamente o prognóstico do paciente.
Em Síntese
A picada de cobra exige integração absoluta entre urgência, enfermagem, medicina e laboratório clínico. O protocolo do Ministério da Saúde deixa claro que os exames laboratoriais não são acessórios — são ferramentas decisivas para salvar vidas.
Mesmo exames considerados obsoletos em outros cenários, como o Tempo de Coagulação, mantêm valor clínico específico dentro desse protocolo. Conhecer essas diretrizes é obrigação técnica de quem atua na linha de frente.
No acidente ofídico, tempo é veneno — e o laboratório é parte do antídoto.
📌 Picada de cobra exige protocolo, integração e laboratório atento
✔ Reconheça a importância dos exames laboratoriais na classificação da gravidade do acidente ofídico.
✔ Entenda por que o Tempo de Coagulação ainda é indicado no protocolo oficial do Ministério da Saúde.
✔ Evite atrasos na conduta clínica, garantindo coleta, liberação e interpretação corretas dos exames.
✔ Fortaleça a comunicação entre laboratório e equipe assistencial, reduzindo riscos e complicações.
✔ Aprimore sua prática profissional com base em diretrizes oficiais e boas práticas laboratoriais.
👉 Importante:
Este conteúdo é educativo. Em casos de picada de cobra, o paciente deve ser atendido imediatamente em serviço de saúde, e a conduta deve seguir rigorosamente os protocolos oficiais do Ministério da Saúde.
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🔗 www.alertasaude.com
📚 Fontes oficiais e referências
Ministério da Saúde – Brasil
Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos
Guia de Vigilância em Saúde – Acidentes OfídicosSecretaria de Vigilância em Saúde (SVS/MS)
Protocolos clínicos para manejo de acidentes por serpentes no Brasil.ANVISA
Diretrizes de apoio ao Programa Nacional de Segurança do Paciente aplicadas a situações de urgência.SBPC/ML – Sociedade Brasileira de Patologia Clínica / Medicina Laboratorial
Boas práticas laboratoriais aplicadas à urgência e emergência.

