Primeiro Caso de Detecção de Plasmódio em Primata Não Humano no Brasil: Entenda a Importância do Achado
Descoberta inédita revela risco de malária zoonótica em áreas florestais e reforça a importância da vigilância em primatas silvestres no Brasil
31/07/2025
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Descoberta inédita reforça a importância da vigilância molecular em primatas neotropicais e acende alerta sobre a malária fora da Amazônia.
O que é o plasmódio e por que essa descoberta é tão importante?
O Plasmodium é o protozoário causador da malária, uma das doenças infecciosas mais antigas e letais da história humana. Embora sua transmissão em humanos ocorra predominantemente por meio do mosquito Anopheles, estudos recentes revelam que primatas neotropicais também podem ser infectados por espécies semelhantes às que afetam o ser humano, como Plasmodium malariae e Plasmodium vivax.
Pela primeira vez no Brasil, pesquisadores detectaram a presença do plasmódio em um primata não humano nas regiões da Bahia e Minas Gerais. A descoberta é considerada um marco na vigilância epidemiológica de zoonoses, especialmente em biomas como Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga.
Primatas como reservatórios naturais do parasita
A vigilância molecular revelou que espécies como Sapajus (macaco-prego) e Callithrix (sagui) podem abrigar o parasita sem apresentar sintomas visíveis. Isso significa que esses animais podem atuar como reservatórios naturais silenciosos, mantendo o ciclo do plasmódio ativo mesmo fora de áreas tradicionais da malária, como a Amazônia.
Essa realidade levanta preocupações: o contato crescente entre seres humanos e animais silvestres em áreas de transição ecológica (zonas rurais, fragmentos de mata e unidades de conservação) pode facilitar a transmissão cruzada entre primatas e humanos.
Do parasita ao humano: o caminho invisível da zoonose
O Plasmodium brasilianum e o Plasmodium simium, detectados em primatas da América do Sul, são geneticamente quase idênticos às formas humanas P. malariae e P. vivax, respectivamente. Isso torna os diagnósticos clínicos mais desafiadores e exige o uso de testes moleculares altamente específicos, como o PCR-RFLP, para diferenciar as espécies.
A semelhança genética entre parasitas de humanos e de primatas reforça a tese de que a malária pode ter origem zoonótica em determinadas regiões, dificultando os programas de controle e erradicação.
Brasil fora da Amazônia: novas áreas sob risco
Tradicionalmente, os casos de malária no Brasil concentram-se na região amazônica. No entanto, com a nova descoberta em estados como Bahia e Minas Gerais, o alerta se amplia para regiões onde a malária não era considerada endêmica, mas que possuem condições ecológicas propícias à manutenção do ciclo do parasita.
Esse novo cenário exige vigilância integrada entre saúde humana, saúde animal e meio ambiente — abordagem conhecida como "Saúde Única" — para antecipar surtos e proteger populações vulneráveis.
O papel da ciência na prevenção de novas epidemias
A detecção precoce de plasmódios em animais silvestres só é possível graças ao avanço das tecnologias de biologia molecular, como a análise de DNA a partir de pequenas amostras de sangue. Esses métodos já fazem parte da rotina de vigilância de doenças emergentes, e devem ser incorporados em ações contínuas de monitoramento em áreas de risco.
Além disso, educação ambiental e campanhas de conscientização são essenciais para reduzir o contato direto entre humanos e primatas, especialmente em regiões com fragmentos florestais próximos a áreas habitadas.
✅ Em Síntese
A descoberta do primeiro caso de infecção por plasmódio em um primata não humano no Brasil representa um alerta importante para autoridades de saúde, pesquisadores e a população em geral. Trata-se de um passo decisivo na compreensão do papel dos animais silvestres no ciclo da malária e um reforço na urgência de estratégias preventivas baseadas em ciência, vigilância e integração entre áreas.
📚 Fonte:
SANTOS, L. B. dos et al. Molecular Surveillance of Plasmodium spp. Infection in Neotropical Primates from Bahia and Minas Gerais, Brazil. Pathogens, [S. l.], v. 14, n. 8, p. 757, 2025. Disponível em: https://www.mdpi.com/2076-0817/14/8/757. Acesso em: 31 jul. 2025.
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